sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Infecção por HPV...Questões principais.

O cancro do colo do útero tem uma incidência muito alta em Portugal no contexto da Europa dos quinze. Tal facto é consequência da ausência de programas de rastreio organizados em todo o país. A região centro tem um programa em curso desde 1990, por isso apresenta uma taxa de incidência muito mais baixa que o resto do país.


A história natural deste cancro é bem conhecida. O principal responsável é o vírus do papiloma humano de alto risco (HPV). Numa 1ª fase o vírus infecta as células do colo do útero e depois, perante determinadas condições, transforma-as progressivamente numa célula cancerosa. Na maior parte dos casos, esta evolução acontece sem qualquer sintoma, sem qualquer sinal.

As infecções pelo HPV são a doença sexualmente transmissível mais frequente na Europa. Em mulheres sexualmente activas, alguns estudos demonstram uma prevalência de 70%, o que é muito elucidativo da facilidade com que transmite. Não são necessários comportamentos considerados de risco para que uma mulher possa entrar em contacto com o vírus e adquirir a infecção.

O vírus propaga-se com extrema facilidade através das relações sexuais, mas não é indispensável que haja penetração, basta um contacto da zona genital com o vírus. A infecção, por si só não representa uma ameaça grave, na medida em que na maior parte dos casos (95%) é debelada pelas defesas naturais, sem consequências.


O problema está, que não é possível distinguir à partida os 5% em que corre mal. Por isso é fundamental a prevenção com a vacina e o rastreio. Em Portugal te-mos cerca de 2.850.000 mulheres

que deviam fazer regularmente um rastreio com citologia. Destas 20 a 30% fazem citologias todos os anos, às vezes mais de uma vez por ano.

As restantes nunca o fizeram ou fazem-no erraticamente, sem método, sem rigor! É sobretudo neste grupo que vamos encontrar os cerca de 960 novos casos de cancro invasivo que diagnosticamos todos os anos. Destas cerca de 360 vão morrer, porque a doença é detectada numa fase tão avançada, que a cura não é possível! No programa de rastreio da região centro 90% das mulheres com cancro invasivo do colo não fazem uma citologia há mais de 5 anos!


Uma nova e promissora expectativa foi aberta com o advento da vacina. Duas estão disponíveis nas farmácias. Ambas protegem contra o HPV 16 e 18, que são responsáveis por cerca de 75% dos casos de cancro do colo do útero. Uma delas é quadrivalente, porque protege também contra o HPV 6 e 11, que é responsável por 90% dos condilomas genitais e pode proporcionar outros benefícios potenciais diminuindo a frequência de lesões pré-cancerosas genitais e doenças graves da laringe. O Ministério da Saúde decidiu incluir a vacina no plano nacional de vacinação, tornando-a de uso universal e gratuita para toda a população envolvida: jovens com 13 anos em 2008; jovens com 13 e 17 anos em 2009, 2010 e 2011, seguindo-se então só as adolescentes com 13 anos.


Seja como for, importa salientar que a vacina não cobre todas as hipóteses. Para as vacinadas e não vacinadas o rastreio é indispensável.

Dr. Daniel Pereira da Silva, Director do Serviço de Ginecologia, IPO Coimbra.



É realmente eficaz?

O valor da actual vacina contra o HPV não pode ser subestimado e deveria ser considerado de acordo com as recomendações do FDA e CDC ou seja : crianças e mulheres até 26 anos de idade devem receber a vacina em 3 doses nos meses 0, 2 e 6.

Em mulheres com 21 anos ou mais, um teste de papanicolau deve ser realizado antes de se administrar a vacina. A vacina contra o HPV não substitui a necessidade de se utilizar outros meios preventivos tais como o Papanicolau. Em mulheres que planeiam se abster de sexo, ou que possuem apenas um parceiro sexual há uma redução dramática do risco de infecção com o HPV de tipos 16/18 e 6/11 tornando o uso da vacina nestes casos menos valiosa.

(Obstet Gynecol 2006 Jan;107(1):18-27: Eficácia da vacina contra o vírus do papiloma humano tipo 16 para prevenir a neoplasia intraepiltelial cervical:um teste aleatório controlado.Mao C, Koutsky LA, Ault KA, Wheeler CM, Brown DR, Wiley DJ, Alvarez FB, Bautista OM, Jansen KU, Barr E. Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, University of Washington, Seattle, Washington 98104-2499, USA.)




Confere protecção imunitária durante qua
nto tempo?

"A vacina de partículas similares do vírus do HPV16 L1 oferece protecção de alto nível contra infecções persistentes pelo HPV16 e contra NIC 2-3 relacionadas com o HPV16 por pelo menos 3, 5 anos após a imunização. A administração de vacinas de partículas similares do vírus do HPV16 L1 que atacam o vírus do HPV16 tem probabilidade de reduzir o risco de cancro cervical."

(Gynecol Obstet Fertil 2006 Mar;34(3):189-201. Prevenção do câncer cervical: o impacto da vacina contra o HPV. Monsonego J. Institut A.-Fournier, 174, rue de Courcelles, 75017 Paris, France.)



O Sala-de-Enfermagem, disponibiliza esclarecimentos adicionais acerca desta temática. Coloquem as vossas questões e dúvidas. Seja, ou não, profissional de saúde. Disponibilizamos ainda o poster acerca do HPV, distribuído pelo governo brasileiro, numa tentativa de diminuir as taxas de infecção.

(clique na imagem para abrir)




1 comentário:

Anónimo disse...

gostava de saber se é possivel ter relaçoes sexuais depois de tomar a vacina?
se não ha qualquer problema em ter relaçoes sexuais durante os meses em que é administrada a vacina?