terça-feira, 30 de setembro de 2008

Omnia si perdas, famam servare memento

Não foi com espanto que ouvi a Ministra da Saúde, Dr.ª Ana Jorge, referir a falta de compreensão no que toca à Greve Nacional de Enfermeiros agendada para os próximos dias 30 de Setembro e 1 de Outubro.
Seria de esperar que, após a recente vitória acerca do debatido Modelo de Desenvolvimento Profissional, os ânimos reivindicativos esmorecessem e os Sindicatos arrumassem as bandeiras. Esta é, obviamente, a visão institucional. Será então lógico que, depois de Dezembro do presente ano (data de apresentação em Conselho de Ministros da proposta) a situação se irá, de imediato, inverter? A resposta do Sala de Enfermagem é não.
No que toca à admissão, por exemplo, o que passa actualmente é gritante. Jovens Enfermeiros, formados com verba oriunda da Administração Pública, acumulam-se nos bancos dos Centros de Emprego. São licenciados, representam a entrada com médias ainda elevadas (à quatro anos atrás) e, passivamente, esperam a integração nas instituições. Mas…nem todos. As entradas veladas sucedem-se uma após a outra e acontecem frequentemente com Enfermeiros oriundos de Escolas privadas. Estes, não raras vezes, são admitidos nas instituições através do referido sistema velado que nada abona a favor da imagem da Enfermagem moderna. Em detrimento dos Enfermeiros oriundos de Escolas públicas, com médias de acesso mais altas e, portanto, com maior motivação, maior investimento intelectual prévio e, eventualmente, com maior capital intuitivo. Jobs for the Boys, onde é que eu já ouvi isto? Presumo que seja no mesmo país onde a média de acesso não é importante, excepto se for num concurso público. E mesmo assim, apenas se corresponder aos critérios apertados, criados de forma a seleccionar, de forma dirigida, o futuro profissional. Este modus operandi prático, mas flagrante, constitui a forma de aumentar o ângulo em relação ao solo mantendo, ainda assim, menos de 90º. A Física da empregabilidade é semelhante à Física espacial, depende do ponto de vista e das interacções.
Este problema nasce da incapacidade de absorção, por parte do mercado de emprego, de todos (ou da maior parte) dos licenciados em Enfermagem. Estará o defeito do lado do Ministério da Ciência e Ensino Superior, que forma em larga escala, ou do lado do Ministério da Saúde, cujas políticas economicistas restringem o acesso dos profissionais ao mercado de trabalho? Ou ainda, de sucessivos erros administrativos que levaram a uma exaustão económica que levou a uma má distribuição dos recursos?
Na opinião que me concedem o erro está, infelizmente, numa combinação destes factores com uma inércia social generalizada. Vivemos num país de brandos costumes, e os costumes brandos não são brandos com quem os apregoa. A senhora Ministra da Saúde não compreende a Greve. Quanto a nós, Enfermeiros e redactores deste blogue, não compreendemos como é que, correndo tudo de feição, os problemas se continuam a amontoar no Sistema Nacional de Saúde. Omnia si perdas, famam servare memento, citação latina para "Perca-se tudo, menos a honra", lutemos para que isso não ocorra.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom este post. É isso mesmo.
Enquanto o Governo se desfaz em momentos de propaganda, os serviços de saúde debatem-se com enormes dificuldades para conseguirem prestar os cuidados a que os cidadãos têm direito. Mas isto é intensional. Degradar os serviços públicos, fazendo a apologia dos privados que estão a investir em grande na saúde.
Mantendo enfermeiros no desemprego, baixa o valor do trabalho e os privados oferecem então, condições de trabalho miseraveis.
Só a luta dos enfermeiros pode fazer mudar este rumo.