quarta-feira, 17 de setembro de 2008

"Como salvar uma vida." (Curso intensivo de 20 horas!?)


Se alguém duvidava que os tempos eram de vigilância, eis que surge, desta vez com a chancela da Ordem dos Farmacêuticos (secção regional de Lisboa). O Presidente da supracitada secção, citado no blogue Doutor Enfermeiro, refere que:


"(...) A propósito de as vacinas começarem a ser administradas nas Farmácias (acto técnico cuja validade diz respeito à Ordem dos Enfermeiros), "Farmacêuticos vão aprender a reanimar doentes "!

"A Ordem [dos Farmacêuticos] vai realizar cursos em conjunto com o Instituto Egas Moniz, mas a Associação Nacional de Farmácias, várias cooperativas e institutos do ensino superior vão fazê-lo"
"Os cursos têm 20 horas e vão começar em Setembro, para que os conhecimentos estejam frescos a partir de Outubro".


A formação irá permitir [segundo a Ordem dos Farmacêuticos, "reforçar conhecimentos de suporte básico de vida, que foram apreendidos na universidade". Normalmente, não há efeitos secundários, porém, se houver casos de choque anafiláctico (alergia), "pode ser preciso fazer reanimação ou tratar, localmente, as reacções alérgicas", diz (...)".


O que, certamente o Presidente da Secção Regional não se recordou é que o choque anafilático, quando não encaminhado rápida e correctamente pode levar a Paragem Cárdio Respiratória. E, segundo as indicações do ECR (2005) e do Centro de Formação Médica do INEM (2006) é "pouco provável que a vitima recupere apenas com Suporte Básico de Vida(...) sendo o acesso ao Suporte Avançado de Vida e à Desfibrilhação Precoce (se ritmo cardíaco compatível) uma prioridade". Ora, dificilmente este curso de 20 horas permitirá um conhecimento abrangente sobre fisiologia em PCR...e certamente que não permite uma avaliação experiente, complexa, multifactorial e reservada até aos dias de hoje para médicos e enfermeiros. Se existe a leve possibilidade (real ainda por mais) de um procedimento técnico levar a situações desta gravidade então não deveriam de ser levados a cabo em ambientes seguros e controlados com acesso a médico e enfermeiro imediato? Ou devemos esperar que 20 horas de ténue formação permitam efectuar Suporte Básico de Vida enquanto, desesperadamente, se aguarda a activação e deslocação de uma VMER?

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