domingo, 22 de fevereiro de 2009

Correia de Campos...outra vez...

O nosso caro ex-ministro da saúde gosta de pérolas. Em especial das pérolas da oralidade, pelo menos tem-nos habituado a protagonizar algumas.


Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra e mestrado em Saúde Pública pela Universidade Johns Hopkins, demonstra pouca sensibilidade no que toca a assuntos tão polémicos como a empregabilidade dos profissionais formados em Portugal, a economia no ensino e, como muitos defendem não reconhece um sistema nacional de saúde, preferindo um sistema liberal como o adoptado nos EUA.


Durante o seu mandato, interrompido bruscamente (para bem do SNS), foi dissertando longamente acerca de temáticas que, claramente, dominava de forma deficitária. Do abre e fecha de serviços de urgência, ao abre e fecha de maternidades, passando pela contestação popular (que acabou no afastamento de Correia de Campos como ministro), ficou bem clara a intenção popular de terminar o nefasto capítulo. Mas, aparentemente, Correia de Campos não compreendeu o sinal para se afastar das luzes da ribalta. Continua a aparecer com frequência, a escrever com mais frequência ainda e a afirmar algumas...incongruências.


A última, publicada amplamente nos meios de comunicação social (ler exemplo aqui), dá conta de uma opinião no mínimo duvidosa. Correia de Campos refere que o "Estado não tem de privilegiar o acesso ao primeiro emprego a enfermeiros". Claro que não senhor advogado. Aliás o Estado deve efectivamente gastar tempo, recursos humanos e recursos económicos na formação de profissionais qualificados que servem apenas para engrossar as fileiras nos Centros de Emprego de todo o país. Chama-se a isto um investimento bem feito.

De forma gradualmente mais confiante (deram-lhe tempo...) analisou ainda o caso dos Enfermeiros quando comparado com os Psicólogos dizendo "Por que é que eu hei-de ser exigente com o emprego dos enfermeiros e não hei-de ser igualmente exigente com o emprego dos psicólogos? Temos muitos mais psicólogos desempregados do que felizmente temos enfermeiros!". Senhor Ex-ministro, actualmente comentador político na área da saúde e afins, o problema é precisamente esse. Em breve, dado o elevado número de Licenciados em Enfermagem, não demorará muito até que a gravidade da situação não só seja igual como até piore! E quando a realidade assistencial demonstra, em especial no litoral e no interior profundo, que existe uma gritante falta de profissionais de Enfermagem, não será estranho falar-se em desemprego? Não será estranho ser comparado com uma classe profissional, os psicólogos, onde existe um manifesto excesso de profissionais? Até os rácios da OCDE, aqui tão contestados, demonstram isto. Ah, mas vendo bem, pedimos desculpa. Afinal esta é a postura tão portuguesa do "Vocês estão mal? E aqueles ali? Vá, comam o vosso pão duro que há quem nem pão tenha!". É muito tradicional o Ex-ministro Correia de Campos.


Mas a miríade de eflúvios não termina. Correia de Campos, fazendo fintas à audiência, refere acalmando os ânimos que afinal a empregrabilidade dos Enfermeiros é um problema ultrapassado uma vez que nomeadamente nas novas áreas do Serviço Nacional de Saúde como a dos cuidados continuados onde, disse, vão existir "centenas, milhares de camas" na procriação medicamente assistida ou nos cuidados de saúde oral. "São áreas que vão, certamente, abrir espaço para a colocação de enfermeiros". Cá estamos nós para verificar, como especialista deve saber do que fala. Centenas de milhares de camas resolviam muitos problemas. Para já a sobrelotação das instituições do SNS...


Por fim, resta aos profissionais de Enfermagem no desemprego, agradecer ao Ex-ministro o seguinte conselho: Correia de Campos disse ainda que existem "imensas possibilidades" de emprego noutros países: "Há instituições inglesas que vêm buscar a Portugal centenas de enfermeiros por ano." Correia de Campos, mantendo a postura visionaria que caracterizou o seu mandato regressa aqui à ideia peregrina de investir para formar e depois exportar o ganho intelectual para outros países. Será da opinião que todos os trabalhadores intelectuais devem abandonar o país, migrando para super potências internacionais? Aqui , no Sala de Enfermagem, não queremos acreditar nisso, mas...

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